Uma jovem deficiente visual que sofreu com problemas com dirigentes esportivos construiu uma carreira sólida no esporte paraolímpico. Agora, ela terá, em sua terra natal, a oportunidade de brigar por uma medalha tanto em na competição para cegos quanto no torneio convencional.
Este é um resumo da história de Lenia Ruvalcaba, judoca de 25 anos, nascida em Guadalajara e que representará o México tanto nos Jogos Pan-Americanos quanto no Parapan. Com a vaga assegurada, ela contou ao UOL Esporte sua trajetória de superação de diversos problemas, entre eles uma rixa política com uma cartola.
Lenia tem, desde seu nascimento, miopia, astigmatismo e estrabismo, entre outros problemas visuais. Ela não é completamente cega, mas enxerga com muita dificuldade e tem de minimizar a deficiência com óculos.

Lenia Ruvalcaba em ação; judoca superou briga com cartola para ir ao Pan e também ao Parapan
Judoca desde criança, a mexicana competia normalmente até 2004, quando recebeu o primeiro convite para o esporte paraolímpico. Ela declinou por estar na seleção nacional convencional, mas teve de mudar de postura.
“Eu sofri com problemas políticos. A presidenta da federação da minha região [Jalisco] impediu que eu fosse convocada. Meu pai viu a falta de organização do esporte quando eu era menor e tentou fazer alguma coisa para melhorar, e por isso a presidenta me tirou de um torneio de juvenis na [República] Dominicana”, disse Lenia.
A atitude empurrou Lenia para o esporte paraolímpico e frustrou seu pai, Gerardo Ruvalcaba, que viu seu outro filho, árbitro de judô, também ser boicotado. Em uma competição de São Paulo, em 2005, a judoca derrotou Lorena Pierce, norte-americana que havia sido medalha de prata nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, um ano antes.
“Ali eu percebi que poderia dar certo. Gostei. Se eu ganhei dela, poderia seguir em frente”, contou Lenia, que realmente fez sucesso. A mexicana foi campeã parapan-americana em 2007, no Rio de Janeiro, e vice-campeã paraolímpica em 2008, em Pequim.
Ciente do sucesso no esporte adaptado, ela voltou a sonhar alto com as competições convencionais, que nunca chegou a abandonar. Depois de anos disputando apenas os torneios nacionais, ela foi aos Jogos Centro-Americanos no ano passado e conquistou o bronze.
Daí em diante, passou a sonhar com uma vaga no Pan de 2011, que acontecerá em Guadalajara. Depois de um resultado negativo em uma seletiva no fim do ano passado, ela teve que bater quatro rivais diretas pela vaga no início em fevereiro para finalmente conquistar a sonhada vaga.
“São os meus primeiros Jogos. Estou com muita vontade de ganhar a competição e vou me esforçar demais para estar no pódio. Aprendi muito em todo esse processo”, avalia Lenia, que não vê problema em disputar os dois torneios.
“Antes de tudo, a gente até consultou as federações e vimos que não tem nenhum problema. É só ficar atento ao calendário, para não ter competição na mesma data”, disse a judoca.
Agora, ela treina na Universidade de Guadalajara, onde também estuda educação física, e em uma estrutura fornecida pelo Comitê Olímpico Mexicano. Questionada sobre a dirigente que atrapalhou o começo de sua carreira, ela é sucinta.
“Afortunadamente ela não está mais no judô”, resumiu.
Do Uol Esportes